sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Ligar para casa

Eu li uma frase hoje que me fez ter vontade de escrever de novo: "O hábito de orar é muito importante na vida dos membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. É como ligar para casa quando você está longe de seus pais"
Ligar para casa quando você está longe de seus pais.Quantas vezes já chorei por causa disso!!!!!
Quantas vezes já não desejei com todas as minhas forças, poder ligar pra eles!!!
Quando eu tinha 11 anos, nós nos mudamos para Itaí, fato que eu odiei, eu tinha na minha mente que assim que pudesse, voltaria para Curitiba. Sofri bullyng durante todo o período em que estava na escola lá em Itaí, e isso reforçava na minha mente que eu queria voltar pra minha cidade.
Eu amava meus amigos da Igreja, mas por causa da distância, só via eles aos domingos, e o pessoal da sede do distrito, talvez 1 ou 2 vezes ao mês. Lembrar de como os jovens eram unidos e quantas atividades eles tinham na minha antiga ala, também reforçava meu desejo de voltar.
Até que uma vez, acho que eu tinha uns 17 anos, nós fomos visitar meus familiares em SC e na volta, passamos pela primeira vez desde que nos mudamos, na minha antiga ala. Era um domingo de testemunho, e eu tinha meta de nunca perder uma dessas oportunidades, e lá fui eu prestar meu testemunho. E assim como em muitas ocasiões, eu ganho conhecimento a medida que eu falo.
Não lembro exatamente o que eu disse no testemunho, provavelmente estava falando da saudade da ala e da vontade de voltar rapidamente antes de prestar meu testemunho mesmo, pq sempre entendi a natureza sagrada de prestar um testemunho. Mas a revelação, insight que eu recebi naquele dia, disso eu lembro perfeitamente.
Enquanto falava e olhava para a congregação, por um momento eu olhei para onde meus pais e irmãos estavam sentados. Pensei em como éramos unidos. Ficar isolados em Itaí, nos forçava a ser assim, e criamos uma ligação que talvez de outra maneira não teríamos. Meu pai, apesar de todo o seu cansaço, chegava a noite, estudava, e no dia seguinte, as 05:30, ele estava de pé, pra que eu e depois eu e meu irmão, tivéssemos aula do seminário.
Quando ele serviu como Pres de ramo, ele chegava em casa na sexta feira a noite, e o carro já estava preparado, e íamos para Avaré, e só voltamos no domingo a noite. Enquanto ele e minha mãe estavam ocupados fazendo visitas, reuniões, treinamentos, eu estava cuidando dos meus irmãos.
Depois que foi desobrigado, as sextas feiras se tornaram símbolo de filme e pizza.
Nós sempre alugavamos uns 2 filmes pra assistir juntos.
Fazer as tarefas em casa, sempre foi dividido, mas duas em especial era uma divisão unida. Lavar roupa e cozinhar.
Minha mãe tinha uma máquina de lavar que ela amava, mas depois que ela quebrou de vez, ela foi forçada a comprar outra, que segundo ela, não lavava e só espalhava a sujeira. Descontente com a nova máquina de lavar, ela comprou um tanquinho, que eu não sei explicar como é, daqueles simples que só lavam, e que parece, toda casa no estado de São Paulo tem uma.
Como o tanquinho só batia, ela fazia o primeiro enxague, outro filho ficava na maquina antiga, que estava com a agua do segundo exague, outro filho ficava num baldão onde ficava a agua do terceiro enxague com o amaciante, e um outro, outra no caso pq era onde eu ficava, tirava a roupa da maquina que não lavava, mas centrifugava direitinho e ia estender a roupa. Toda semana era assim.
Cozinhar também, sempre todos juntos na cozinha, cada um fazendo uma parte do mise en place enquanto minha mãe cozinhava, e um outro ia lavando tudo que estava sendo sujo pra não acumular com os pratos depois. Fazíamos tudo juntos, e encontrávamos prazer nisso. Nós raras vezes fizemos coisas separados.
Voltando a revelação/insight que eu tive enquanto prestava meu testemunho, eu , naquela hora, parei de odiar Itaí, e passei a relevar a idéia de morar lá. Pq talvez, se tivéssemos ficado em Curitiba, meu pai com o chamado de Bispo, nós crescendo e fazendo mais amigos e com tantas atividades, nós não conseguiríamos ter essa ligação em família que nós tínhamos.
Esse foi um momento muito importante pra mim. Chorei meses consecutivos após a mudança todas as noites antes de dormir, chorei anos seguidos por me sentir sozinha na escola e não ter amigos lá, e finalmente, nesse dia, essa barreira caiu. Foi por ter minha família, por passar a entender que era de lá que meu pai tirava o sustento pra nós, que eu passei a relevar morar em Itaí.
Aprendi que nada mais importava, enquanto eu tivesse eles.
Orar é como ligar para os pais quando se está longe de casa.
Ir para a missão foi meu sonho e meta desde que eu tinha 6 ou 7 anos. Não aceitei namorar antes pq meu foco era a missão, me esforcei no seminário para conhecer bem as escrituras, orei e busquei meu proprio testemunho pq achava horrível ouvir quando um missionario dizia ter recebido seu testemunho na missão, eu não queria perder uma dia sequer, queria aproveitar cada segundo desse sonho lindo. Ir pra missão, teve suas dificuldades. Nunca estive tanto tempo longe de casa, nem tão distante.
Deixei minha família chorando na rodoviária, e depois que não conseguia mais ve-los do onibus, passei a chorar também. Até que lembrei que esse era meu sonho e desejo. E parei de chorar e não sofri mais por causa disso. Ligar pra casa se tornou um presente muito desejado.
Voltei da missão e enfim voltei para Curitiba.
Como eu estava feliz!!!!!!!!!!!!!! Ainda sim, uma parte de mim, queria eles ali comigo. Estar longe não era gostoso. E as tecnologias foram entrando, e suprindo essa falta. Ligar pra casa se tornou um presente muito apreciado.
Mudei para o Rio de Janeiro para me casar. E cada vez mais, com a tecnologia, ligar pra casa foi desaparecendo e se tornando em ficar com minha mãe no skype por horas seguidas.
Principalmente depois que parei de trabalhar pra ficar em casa com as meninas.
A falta da presença física foi amenizada pelo contato de vídeo.
Até que a doença foi tomando conta, minha mãe passava mais tempo fora de casa do que lá,  quando estava lá, estava cansada tadinha, esgotada pelo tratamento.
A ultima vez que falei com ela, adivinha, foi numa ligação. E se eu pudesse voltar no tempo, não teria desligado, e teria ficado com ela até o fim.
A ultima vez que eu ouvi a voz do pai em vida, adivinha de novo, outra ligação.
Orar é como ligar para os pais quando se está longe de casa.
No selamento da Camy, que foi meses depois do falecimento deles, eu só chorava, eu sabia que eles estavam ali, eu queria dizer o quanto eu os amo e como estava com saudade.
Eu hj em dia, chego na sala celestial, e converso com o 3, o Pai Celestial, e eles. Numa vez, chorei copiosamente do inicio da sessão, até sentir forças nas pernas pra sair na sala celestial. Enquanto começava a ordenança, eu senti a mistura do cheiro de roupa lavada e do perfume da minha mãe.
Durante esse processo de cura, eu não faço idéia de como alguém que não tem o evangelho faz, pq orar se tornou minha fortaleza e refúgio. Literalmente se tornou ligar para casa quando se está longe dos pais. Sem a chance de conversar com o Pai Celestial, sem saber e sentir que meus pais estão bem e trabalhando muito do outro lado do véu, eu não sei como teria passado por tudo isso.
Oração, ganhou um novo sentido pra mim.
E dou graças ao Senhor por conhecer esse evangelho e ter um testemunho dele.