quarta-feira, 27 de março de 2019

Falecimento do meu pai

Eu ainda estava em luto e dor profunda pelo falecimento da minha mãe, e enquanto voltavamos de São Francisco do Sul, meu pai pediu que eu fosse até lá em Itaí e ajudasse ele a limpar a casa e dar um jeito nas coisas dela.
Fiz isso ainda em novembro, no feriado do dia 20, e assim que entrei em casa, minha vontade era de chorar.
Minha mãe tinha recebido algumas de suas irmãs no feriado de 12 de outubro, e assim que elas sairam, nós saimos também, e fomos para Botucatu, pra ficar na casa da minha irmã e perto do hospital da Unesp.
Do mesmo jeito que haviamos deixado a casa, ela estava quando entrei. Sem tirar nem por.
As roupas que mostramos pra ela escolher e fazer a mala para ir pra casa da minha irmã, ainda encima da cama, os restos de comida na geladeira.... Tudo exatamente igual.
Minha irmã Gabriela também foi pra lá e começamos a arrumar e jogar coisas fora.
Mal conseguimos mexer em um quarto, e prometi que voltaria varias vezes até conseguirmos mexer em tudo..
No Natal ele foi pra São Francisco do Sul com minhas irmãs, e no Ano novo, passamos juntos em Botucatu. Fizemos uma atividade juntos, ele tinha prometido que ia levar as netas pra ver Star Wars, e fomos todos juntos.
A passagem do ano foi dificil pra mim, ficamos lá fora vendo os fogos, e depois que todos entraram, fiquei lá fora mais uns minutos com o Dani. Era dificil crer que minha mãe tinha ficado para trás. A partir daquele novo ano, ela não estaria mais junto, e era dificil crer nisso.
Respirei fundo e voltei pra junto do meu pai, que precisava de carinho e atenção.
Voltamos pra São Paulo com a promessa que eu ia voltar no aniversário dele, dia 19, por que ele ia fazer uma cirurgia de catarata e eu ia pra lá cuidar dele.
Na volta, nosso pneu furou duas vezes.
Sem estepe, não podia me aventurar a viajar, e estava sem grana pra comprar um pneu novo.
Minha irmã Camila estava voltando de Londres, ela encontrou um bom rapaz lá que a pediu em casamento, e como ele é brasileiro, de Curitiba, ela voltou antes do visto dela expirar para ficar um pouco com meu pai e dar entrada nos papeis do casamento.
Com a ajuda dela, fomos as duas e meus filhos de onibus para Itaí.
Meu pai não pode nos pegar, tinha ido a uma outra cidade representar a fazenda em alguma coisa.
Quando ele chegou, cansado, nem tiramos foto, e ele foi dormir cedo, por que iria viajar com a Camila no dia seguinte, e foram a Curitiba fazer a cirurgia. 
Quando voltaram de Curitiba, eu tinha feito bolo de abacaxi invertido e empadão de frango pra ele, mas ele mal comeu, tinha dias que reclamava de dores abdominais, chegou a fazer uma ultra, mas não tinha dado nada de anormal.
Foi dormir cedo de novo, pra descansar da viagem e poder ir traballhar no dia seguinte.
Quando chegou do trabalho, foi pro quarto descansar um pouco, estava com dor e ainda cansado da viagem. Eu tinha feito salada de frutas pra ele, ele até comeu, mas vomitou tudo depois.
Eu e minha irmã ficamos caladas, entretendo as crianças pra elas não ficarem de algazarra e ele poder descansar. Quando se sentiu melhor, foi estudar a aula do instituto, ficou um pouco com a gente assistindo filme e fizemos oração juntos e ele foi pra cama.
No dia seguinte, ele saiu sem chamar a gente pra fazer oração, acredito que para não acordar as crianças. Eu só ouvi que ele estava saindo quando ele abriu o portão pra sair com o carro.
Estavamos a tarde, conversando sobre o que fazer pro jantar que fosse leve pra ele comer a não passar mal de novo, e ele me liga. 
Estava passando mal e tinha sido levado ára a Santa casa por um colega de trabalho.
A ligação estava ruim, eu disse que ia desligar e ligar pra ele do fixo da casa dele, pra tentar uma qualidade melhor de ligação.
Ele já não atendeu mais. Quem atendeu foi o colega, dizendo que tinha dado alteração no exame de sangue dele e ele estava sendo internado, e que pedia pra gente levar as coisas dele.
Como ele havia acabado de voltar de Curitiba, arrumar as coisas dele foi muito rápido, pegamos as crianças e fomos pro hospital. Chegamos lá em meia hora.
Como as crianças estavam comigo e elas não podiam entrar, a Camila entrou pra ficar com ele.
Quando ela cheogu no quarto, disse que ele já não falava mais coisa com coisa, e teve 4 convulsões ao longo da madrugada.
Teve sua transferencia para a Unesp negada, e lá onde ele estava, sem recursos, os médicos não sabiam dizer o que estava acontecendo.
Esperei apenas o raiar do dia para começar a ligar e tentar a transferencia do meu pai, para qualquer lugar com mais recursos.
Para entrar com ordem juducial, precisava do papel em que a Unesp dizia por que estava negando a transferencia  dele, então arrumei as crianças, e fui pro hospital, e troquei com minha irmã, ela ia ficar com as crianças e ia levar o papel no forum, e eu ia ficar com o meu pai até sair a ordem judicial, para que a Camila pudesse descansar um pouco e acompanhar ele na transferencia.
Quando entrei no quarto, ele estava num estado adormecido. Estava assim desde a ultima convulsão.
Ele suava frio, a temperatura estava muito baixa, 34 graus. A glicose estava alta e ele precisava de insulina.O enfermeiro saiu pra pegar isso e a medicação, e eu fiquei do lado dele, sem conseguir dizer pra ele, vai, por que eu não queria que ele fosse, mas também não conseguia dizer fica, por que sabia que ele estava em depressão profunda, e por mais que eu ficasse breves periodos com ele, ele sempre estaria sozinho naquela casa...
Eu secava o suor da testa dela, e só dizia, eu te amo, eu to aqui contigo, eu te amo.
O enfermeiro voltou, e mudei de lado pra que ele pudesse fazer o que precisava, vi o rosto dele se contorcer quando o enfermeiro teve dificuldade em achar a veia dele.
Com a dificuldade, outros enfermeiros vieram, e eu orava pra que se fosse minha mãe que fosse busca-lo, que eu não visse.
Esqueci de dizer, mas além das convulsões, o que fez ele ser internado foi que o exame apontava alguma coisa errada com o fígado. A Camila disse que ele estava com os olhos amarelados, quando eu troquei com ela, ele estava com o corpo todo amarelão.
Eu senti que ia terminar ali. 
A enfermeira chefe veio pro quarto, olhou meu pai e automaticamente pediu pra que eu saisse do quarto. O médico veio e fecharam as portas. Quando as portas abriram novamente, foi com o médico saindo do quarto, e me dizendo que poderia comunicar aos outros familiares que meu pai tinha falecido.
Eu cai no corredor e chorei desesperada. Os enfermeiros vieram me acudir, e eu pedi pra eles me deixarem ali mesmo. Por que quando eu levantasse, tinha que por a dor de lado e pensar em tudo. Não sabia se com o falecimento recente da minha mãe, se meus irmãos iam aguentar a noticia, ainda mais de um falecimento tão rápido e sem explicação.
E assim foi. Liguei pro Dani ainda chorando, mas depois, tive que secar as lagrimas e seguir em frente. 
Ele foi sepultado ao lado da minha mãe.
No fim da vida, já com seus espiritos do outro lado do véu, eles finalmente foram para a cidade onde sonhavam viver até o fim de suas vidas.
O atestado médico indica falha aguda do fígado.
O coração atesta uma saudade profunda do amor da vida dele.
Em vida sempre permaneceram juntos, e em morte não puderam ficar separados.
Cumprimos o que haviamos prometido a minha mãe, cuidamos dele até o final.
O funeral dos dois foi cheio de amigos e pessoas que quiseram homenagea-los uma ultima vez, e o amor deles, sempre foi mencionado em todos os momentos.
Ele parecia estar bem, continuou com a vida dele, aceitou novo chamado como Pres do Ramo, e continuou servindo.
Mas internamente, a cada dia, ele morria um pouco sem ela.
Como pode o Chero, permanecer após a morte da Flor ?
Com eles aprendi quase tudo na vida, a eles devo tudo que sou, minha fé no que em ensinaram, minha gratidão por tudo que sacrificaram por mim.
Passei um período breve em Itaí, para dar continuidade aos procedimentos legais, e recebo uma ligação numa tarde, pouco tempo depois, do Dani aos prantos, por que num exame de rotina, descobrimos que o cancêr do meu sogro voltou.
Tive que por minha dor no bolso, pra voltar pra casa e ajudar meu esposo.
Com meu pai tão cansado, não tiramos uma foto juntos na ultima vez que passamos esses dias juntos.
Então as fotos do Ano Novo, são as ultimas que temos juntos.
Passei por um período de luto muito dolorido, apesar de nunca ter perdido a fé, foi um período de dor muito grande.
Mas no fim, a gente tem que levantar e seguir em frente. Com as crianças, não me perdi por completo, e tive que manter a sanidade acima da dor.
Nunca imaginei perder os dois num periodo de tempo tão curto .
Ainda assim, encontrei nessa mudança pra São Paulo, um motivo para agradecer ao Senhor, por ter estado tão perto deles nos ultimos meses, poder ter ido ao funeral e sepultamento dos dois, e me despedir uma ultima vez.

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